Explica-se Odontologia Desportiva, como uma área de atuação da Odontologia que se propõe a oferecer aos atletas profissionais ou não, cirurgiões dentistas com uma visão esportiva, atuando em conjunto com uma equipe multidisciplinar (médicos, preparador físico, fisioterapeuta, nutricionista), visando contribuir para o quadro geral de saúde do atleta, proporcionando-lhe melhor desempenho em suas atividades e melhora dos seus rendimentos através da manutenção da saúde oral, com o intuito de prevenir possíveis traumas e doenças originadas pela prática esportiva e conseqüentemente seus tratamentos.
Entre outros objetivos, está incluído garantir uma excelente saúde bucal ao desportista detectando fatores prejudiciais a ele, como:
- Respiração bucal
- Posição inadequada dos dentes
- Má oclusão, que ocasiona problemas de mastigação, desequilíbrios musculares e de ATM - articulação têmporo -mandibular.
- Dor e desconforto, capazes de causar prejudicar o desempenho e a concentração.
- Foco Infeccioso na boca, que representa o comprometimento da saúde dos dentes
(um canal aberto apresenta 17% de queda do condicionamento), no periodonto
( tecido de sustentação dos dentes e gengiva) e de outros órgãos do corpo, espalhando-se através da corrente sangüínea, provocando risco para o coração,lesões na articulações e dificuldade de recuperação em lesões musculares.
- Hábitos Viciosos: ranger dentes e roer unhas.
Todavia, o objetivo deste trabalho é salientar a importância do diagnóstico precoce de um atleta com respiração bucal e os cuidados para a prevenção de traumas dentários. O cirurgião dentista tem como intuito, prevenir fraturas dos ossos da face e dentárias, como a que ocorreu com o jogador Leandro Donizete do Coritiba em jogo contra o Santos em agosto de 2009, com o jogador do Flamengo Renato Augusto que no auge de sua carreira se deparou com um momento delicado ao que precisar pôr 11 pinos no malar, como conseqüência de uma fratura durante uma partida de futebol contra o time do Boavista em janeiro de 2008, com o destaque do Futsal do Flamengo, o pivô Gabriel, que após um choque no ar em uma de suas jogadas, contra o time do Cabo Frio, levou 55 pinos no rosto graças a uma fratura em setembro de 2008,bem como lesões de língua, lábios e bochechas também são casos que se atribui ao cirurgião-dentista.
Todavia vale ressaltar que em todos os casos citados acima, quem executou as operações foram médicos e não cirurgiões – dentistas com especialidade em Cirurgia Bucomaxilofacial.
Os traumas ocasionados na prática esportiva representam uma parcela importante, de 14 a 39%, entre as etiologias do traumatismo dentário (Sane e Ylipaavalniemi,1988). Diversos trabalhos indicam que os índices de traumatismos em esportistas são altos, variando de acordo com o esporte praticado e superior se comparados ao índice global da população (Andreassen, 1994).
Segundo National Youth Sports Safety Foundation, cerca de 5 milhões de dentes foram perdidos em 2006 durante as práticas de atividade esportiva. De acordo com a ADA ( American Dental Association), 200 mil traumas são evitados com o uso de protetores bucais. Com o aumento das variedades e conseqüentemente do número de praticantes, os riscos de traumas também crescem e elevam suas estatísticas. A alta competitividade e o contato físico exigido pela modalidade aumentam as chances do atleta sofrer colisões e impactos.
Esses traumas poderiam ter sido amenizados ou até mesmo evitados se houvesse maior incentivo, divulgação ou até mesmo normas mais rígidas exigindo o uso de dispositivos de proteção como protetores bucais.
Pesquisas demonstraram que jogadores de futebol sofrem mais traumas bucais do que lutadores de boxe. Tais dados justificam o fato dos jogadores não fazerem uso de protetores bucais durante os jogos.
O fato de não se usar protetores bucais durante as partidas, se deve a afirmação de muitos profissionais da saúde que alegaram que seu uso interferiria na eficácia respiratória. Ao emitirem tal afirmação, a falta de conhecimento foi destacada, pois estudos já comprovaram não haver nenhum efeito negativo ao desempenho do atleta quando se faz o uso de protetores adequados.
Outra situação que pode ser vista precocemente e que ajudaria em muito um atleta, é a Síndrome do Respirador Bucal, um exemplar desta disfunção é o jogador Ronaldinho Gaúcho. Esta síndrome apresenta como sinais e sintomas a face longa (pobreza de maxila - maça do rosto), batimentos arrítmicos, mordida aberta anterior (quando mesmo com a boca fechada, os dentes anteriores não se tocam), lábios secos, sonolência acentuada, diminuição da acuidade auditiva, protrusão maxilar (ossos mais para trás) e retrognomatismo mandibular ( osso a frente).
As características da Síndrome do Respirador Bucal influenciam no desempenho do jogador dentro de campo (já que este respira pela boca), com isso é gerado um maior cansaço. O jogador Ronaldinho Gaúcho, talvez não se enquadre completamente nesta questão e apresenta uma eficiência no futebol inquestionável, pois o mesmo apresenta um bom acompanhamento e dessa forma possui uma função muscular e cardíaca de extrema qualidade, as quais fazem a compensação da deficiência respiratória. Esta síndrome não tratada na maioria dos atletas prejudicaria em muito o rendimento em campo.
A solução para os diversos casos é um diagnóstico precoce, pois quanto mais jovem menos invasivo é o tratamento. Se tratando de Ronaldinho Gaúcho, atualmente uma cirurgia ortognática seria o único tratamento cabível, perante a idade do atleta em questão, todavia a cirurgia ortognática requer três meses de repouso pós-operatório.
Porém, após essa novela que englobava Gaúcho, Assis, Flamengo, Palmeiras e Grêmio e um contrato valendo milhões em questão, qual time aceitaria neste momento contratar o ídolo e em seguida focar um tratamento para respirador bucal e deixá-lo parado por tal quadro? Nenhum. Por isso a importância explícita da Odontologia Esportiva, que deve ser inserida o quanto antes nos clubes fazendo tratamentos desde as categorias de base para evitar problemas futuros.
“O dentista do esporte deve detectar, tratar e prevenir as doenças do sistema bucal que possa interferir e comprometer o desempenho físico dos atletas, e saber diagnosticar doenças do corpo que se manifestam na boca”, apontou o professor Alexandre Barberini, dentista e presidente da SBOESP (Sociedade Brasileira de Odontologia do Esporte).
Dra. Fernanda Miranda
Graduada em Odontologia pela Universidade Estácio de Sá-2004
Pós graduada em Odontopediatria pela Odontoclínica de Aeronáutica Santos Dumont- 2006
Pós graduada em Imaginologia e Radiologia Odontológica pela UNIGRANRIO-2011
1°Tenente Dentista da Força Aérea Brasileira
CRO RJ 31008
